July 30, 2009

Teoria das Probabilidades


(Botero)

Guidinha queria tanto ser bailarina.

Não descansou enquanto os pais não lhe compraram aquele quartinho super fashion de bailarina do IKEA com o espelho ao comprido por baixo do beliche de uma cama.


Os cortinados eram rosa, o tapete era rosa e os botões do roupeiro eram... rosa!

O espelho tinha no rebordo umas fadas e umas estrelinhas rosa que faziam a inveja das amiguinhas que também elas melgavam os pais para lhes comprarem um quarto super fashion de bailarina do IKEA.

Mas nem todos os pais são construtores civis e nem todos podiam.

Isaurinha tinha um pai "jeitoso" que acabou por arranjar umas madeiras e fez um beliche quase igual. No Ti Manel dos cacos, como era conhecido no bairro mandou fazer um espelho à medida.

Ficou quase igual ao quarto da Guidinha. Mas não era bem a mesma coisa.
Faltavam-lhe também as fadinhas e as estrelinhas cor-de-rosa.

Como tinham sobrado umas à Guidinha e elas eram muito amigas, esta deu-lhe as que tinha e apesar de não chegar para o espelho todo, deu para desenrascar.

Depois elas cresceram e arranjaram namorados.

As fadinhas gastas pelo tempo e os espelhos ressequidos da humidade dos Invernos, destoavam com as crinas de galo, as pulseiras de bicos e os accords de Heavy Metal que entoavam a qualquer hora pela casa fora.

Guidinha ficou grávida na garagem do pai da Isaurinha quando estes foram a Las Palmas comprar cenas para depois venderem aos vizinhos.
Os pais da Guidinha tinham ido ao Dubai para ver como se constrói por lá. Trouxeram perfumes e mandaram embalar por navio um Jeep duma catrefada de cilindros e que gastam um horror aos 100km/h.

Quando chegaram, as duas na sala estoiraram com a notícia.
Ainda para mais sem saberem dizer quem tinha sido o prevaricador já que as duas tinham alinhado em tom de brincadeira e deixa cá ver se isto é giro e bué na moda e muito in e tal, e vá de swing entre os quatro.

Teóricamente poderia dizer-se que a criança era das duas e dos dois!

Deu o badagaio ao construtor civil, a mãe refugiou-se de vergonha na quinta dos pais falecidos à muito em Caminha e os outros, os menos abastados, compreenderam a cena, deram apoio moral às duas, venderam os quartos de bailarina do IKEA e voltaram lá para comprar o do bébé... a prestações.

Moral da história: existem sempre fortes probabilidades do IKEA entrar na tua vida.

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