February 27, 2009

A Primavera aos olhos de...



Jean Claude Picot (n.1933 - )

Malinhas e eu, por terra


Ora uns dias numa...
... ora outros dias noutra.
Mas é pela janela que vou ficar a ver os navios e aviões que hão-de partir para Terras de Vera Cruz.
Paciência.
O dever urge. A gula do prazer tem de ficar para depois.
Até porque outras investidas surgirão no horizonte.
E até porque apesar do degêlo dos polos, dos testes nucleares e da ganância humana, o mundo (ainda) continua por aí, a servir de bálsamo a muita gente, incluindo eu.
Eu, a que fica em terra, a mais a malinha.


February 26, 2009

A Primavera aos olhos de...




Sandro Botticelli (n.1445 - 1510)

February 25, 2009

Malinhas à porta

Este ano começou mais tarde.

Há que ter calma.
Outras prioridades se apresentam e outras mais se avizinham.

Volto ao Brasil.
Mais de 500 anos depois do outro e já vou na 2ª vez em menos de 5 meses.
Noutros tempos, os do Cabral, levariam uns 5 meses só para lá chegar.
Hoje em 8h chega-se ao grande continente, à América do Sul. É o progresso. Para bem ou para mal.




Não é de certo o meu destino de eleição.

Mas eu sou suspeita.
No que toca a laurear a pevide sou exímia e digo-o sem falsa modéstia - é ciente e mesmo bem ciente, que o afirmo.

E roda assim o palco, para mais uma viagem.

Toca a esquecer que a pobreza existe, esquecer que a insegurança e a violência existe, esquecer que o Dengue e a SIDA existe, esquecer que há quem nunca tenha visto um MP3, nem nunca tenha comido carapaus de escabeche (blaghh!).

Esquecer que fugimos para outras bandas com a desculpa de que ansiamos conhecer outros mundos, outras culturas, outras gentes.

Grande aldrabice!

Fugimos tão só de nós próprios, dos nossos problemas, do que não queremos aceitar, do que não queremos ou conseguimos mudar. E não falo só por mim.

Por conseguinte, mudamos de paisagem, mudamos de ar, mudamos as vistas, as conversas, as comidas, as bijouterias. No regresso está lá tudo à mesma.

O bálsamo da viagem passa de efeito e julgando que voltamos com mais energia e outra visão das coisas, depressa nos deparamos que tudo não passa duma ilusão... e demasiado efémera.
De tal forma, que logo ficamos com a vontade de voltar a sair.

Seja como for e de que maneira for, sabe muito bem este entorpecer da nossa realidade indo viver outras, comendo do que os outros lá longe comem e vivenciar o que eles vivenciam.

Por momentos, é o merecido descanso do guerreiro.

A deliciosa e eufórica amnésia do nosso presente - bem mais barata e mais saudável que umas meras gramas de coca.


Quem sabe se afinal até funciona?! Isto do viajar, quero eu dizer.
Afinal no acreditar é que reside tudo.
Se eu acreditar muito, quem sabe não é o que acontece.
E depois há também o provérbio tibetano: "A viagem é um regresso de encontro ao essencial"...

Ora, e com isto os motores começaram a aquecer...
Inté.




A Primavera aos olhos de....


Ernst Ludwig Kirchner (n.1880 - 1938)

February 23, 2009

Segredo




Não contes do meu
vestido
que tiro pela cabeça

nem que corro
os cortinados
para uma
sombra
mais espessa

Deixa que feche
o anel
em redor do teu
pescoço

com as minhas longas
pernas
e a sombra do meu poço

Não contes do meu
novelo
nem da roca de fiar

nem o que faço
com eles

a fim de te ouvir gritar

Maria Teresa Horta (n.1937 - )

A Primavera aos olhos de...



Alphonse Mucha (n.1860 - 1939)

February 19, 2009

Pfeiffer,... Michelle Pfeiffer




Consta por aí que a Pfeiffer, um dia destes e após ter cumprido as belas e maravilhosas 50 primaveras, afirmou o seguinte:

Sempre pensei que chegar aos 50 era o pior. Mas não é grave.
Há menos papéis, contudo mais interessantes. E a vantagem é que os parceiros são mais jovens.


Quantas outras Pfeiffers (ou não) de 50 anos se podem gabar desta figurinha?!

Os parceiros mais jovens, hoje em dia é mato, nada a assinalar.
Mas os 50, esses tenebrosos 50 e estar desta forma.... é mesmo à Hollywood!!! Ugghhh!!!

Bom, há que deixar passar primeiro os 40, enterrar a inveja que os 30 já lá vão há muito e não voltam mais - ihihih - e seguir em frente, que para lá é que é caminho!

Não obstante, atentem no que alguém tão oportunamente disse e reflictam: "não existem mulheres feias, o que há são mulheres pobres!!"

Lemas à Hollywood certamente, mas que eu subscrevo por baixo!


Ciganos

Trabalho perto das urgências dum hospital, em Lisboa.

Ontem, à hora da saída, estava reunido um grupo de ciganos: pais, filhos, primos, tios, vizinhos, sogros,... todos.
Porque é assim que eles funcionam, o que há é para todos.

Seja bem ou mal, o empenho é atroz e não, não arredam pé das suas convicções.
Leis à sua maneira, regras a seu bem parecer e solidariedade inquestionável que mais ninguém no mundo consegue igualar.
Eram para mais de 15, é sempre assim.

Reunidos estavam.
Esperavam. Sossegados, calmos, o que nem sempre é assim.

Deduzi que se tratasse dum parto.
Até mesmo estas sociedades segregadas, estas étnias que se fecham, um dia precisam da sociedade onde parasitam e os cuidados médicos são o primeiro passo.

Regresso hoje ao serviço.
São 08h53 e fora do hospital, no parque estacionamento, passaram a noite.
Cobertores pelo chão com gente ainda dormitando, alguns já a pé cheios de ramelas e desgrunhados. Calmos, sem alaridos, o que nem sempre é assim.

Concluo: passaram aqui a noite.
Por vigilia, amizade, tradição, casmurrice ou seja lá porque razão, não abandonaram o local. É sempre assim.

Dentro do hospital está a pessoa por quem eles esperam, por quem eles aguardam para levar para casa, quiça mais ricos com outro membro. Mais um para ajudar a perpetuar a alma cigana, a mesma que nestes tempos de progresso técnológico e reality shows, não deixam que morram.

À sua maneira. É certo.

February 13, 2009

Sábado do Amor...

É amanhã o tal Dia dos Namorados.

O mesmo que devia perpetuar pelos restantes 364 do ano, mas nem sempre é assim e nem com todos chega a ser assim.
Resta-nos o dia obrigatório do São Valentim.

O dia que ajuda a dinamizar a economia do país no comércio de chocolates, bombons, flores, ursinhos de pelúcia, garrafas de champagne, paletes de morangos, lingerie ousada, cartõezinhos cheios de corações e promessas de amor.
Não escapam restaurantes, pensões, motéis, hotéis e quiça as joalharias.

Uma alegria, uma azáfama em prol do Amor e as caixas registadoras a encher.
Numa época de crise como esta, se isto não é coisa de santo, então será o quê! (:

Convém não esquecer o Amor, o tal que faz girar o mundo (apesar da Minelli nos lembrar doutra verdade).
Convém não esquecer de reafirmar sentimentos, revestir e fortificar as relações.
As que valem a pena, valem mesmo e sabe mesmo bem.

Bom trabalho, São Valentim.

February 11, 2009

Eutanásia

Volta e meia vem à baila este tema.

Sobre doentes em estado terminal que sofrem, uns falam em valorizar a vida; outros falam em respeitar o desejo de terminar a agonia destes doentes.

Tudo em prol da vida, mas como lembra Marcos Sá (deputado que pretende levar o tema a discussão no próximo congresso do PS) a "vida é linda e a morte faz parte dela".

Actualmente a lei portuguesa condena e penaliza quem pratique eutanásia.
Um homicida para todos os efeitos, com penas que vão de 3 a 5 anos de prisão.
Mas na Europa, no que diz respeito à eutanásia e morte assistida temos 3 países que já legalizaram esta práctica: Bélgica, Luxemburgo e a Holanda. A Suiça mantém uma atitude moderada.

Há quem defenda que o governo devia apostar mais nos cuidados paliativos e investir nessa área de modo a minimizar dores e sofrimentos atrozes dos doentes terminais, ao invés da morte assistida.

Mas acresce ainda a religião. A moral.

E haverá moralidade em obrigar o próximo a sofrer e permanecer em agonia? Será isso justo?
E será justo também sermos nós a decidir ou a ajudar a terminar a vida de outrem? Temos nós esse direito?

A juntar a toda esta panóplia de emoções e pontos de vista, questiono ainda: terão todos os médicos a capacidade de utilizar esta práctica condigna e justamente, caso seja permitida ou legalizada?

No caso mediático mais recente sobre esta práctica - o caso de Eluana Englaro, italiana, que vivia em estado vegetativo há mais de 17 anos - a determinada altura e antes de vir a falecer esta semana (o que gerou uma onda de debates a nível nacional e uma crise institucional no país) o director do jornal italiano "La Reppublica" escreveu:

Aquele pai [de Euluana] está entre a mulher gravemente doente [com um cancro] e uma filha inconsciente há tantos anos que nem se podem contar. Ninguém tem sequer o direito, de fora, de imaginar o seu tormento (...). Entre a mulher e a filha ele mantém a sua família. O que resta, claro. Mas também aquilo que é. Existirá uma família italiana, neste 2009, mais "família" que esta?


February 04, 2009

We will allways have Paris!


Memorável e deliciosamente romântico, este filme continua a derreter-me.
2a Grande Guerra Mundial, Casablanca, Rick's Café Américain.
Jogadores, nazis, membros da Resistência, todos se encontram no Rick's Café, o hotspot da cidade - ponto de saída da Europa para quem quer fugir da guerra.

Um amor dilacerado em Paris, reavivado em Casablanca, impossivel de continuar.

Envolvente, com algum suspense, é no lado romântico que este filme desperta as emoções mais fortes.

A canção romântica que Armstrong interpreta, quem não conhece?


Play it, Sam! É como Ilsa diz no filme. E acontece:

You must remember this
A kiss is just a kiss,
a sigh is just a sigh.
The fundamental things apply
As time goes by.

And when two lovers woo
They still say, "I love you."
On that you can rely
No matter what the future brings
As time goes by.


E um bom filme tem isto mesmo, uma panóplia de frases inesquecíveis.


O desfecho cúmplice entre dois homens rivais. A imagem afasta-se, os dois seguem caminho e Rick diz:


I believe this is the begining of a beautiful friendship.



FIM

February 03, 2009

LIDO



Ardeu.

Abandonado faz uns 10 anos, acabou por arder esta madrugada.

Foi o fim de um dos primeiros espaços de culto da cidade da Amadora.

Antes de ser centro comercial era apenas cinema.

Foi lá que vi os meus primeiros filmes e me recordo muito claramente do "A Música no Coração".

Foi um dia em cheio, com direito a lanche e passeio no jardim depois do filme. Fui com a minha mãe, a minha avó e duas vizinhas lá da rua. Uma pandega.

Saudades, porque momentos destes poucos mais houve e só me recordo já em adolescente de ir ver o "Império Contra Ataca".

Apaixonada pelo Luke Skywalker, regressei à escola para em uníssono com as restantes colegas coleccionarmos os posters e recortes de revistas onde o Lucas aparecia.

E o Lido virou centro comercial, e depois discoteca, onde ainda fui a umas 2 ou 3 matinées dançar. Chamava-se dancetaria Lido.

Depois começou a decadência, lojas a fecharem, o cinema a deixar de funcionar e apenas o bar e a discoteca ficaram ainda durante uns tempos.

Rumos que o lado escuro da noite trouxe ao lugar, acabou por ser fechada também a discoteca e assim ficou até ontem o fogo lavrar o espaço e deixá-lo em cinzas e paredes em risco de derrocada.

Tal como em determinada época com o Lido, tantos outros espaços que nos foram queridos e que trazem boas memórias acabam por findar.... como tudo na vida que nos é querido... pelo menos na minha.

February 02, 2009

Por vezes...

Por vezes assombra-me a alma este pensar que há tanta coisa para ver, fazer, experienciar, viver, desejar e que eu literalmente perco o tempo na pasmacenta rotina do dia-a-dia.


Almejo de imediato o Euromilhões, o milagre que me curaria de todos os males e me deixaria finalmente ter o estimado tempo para correr mundo e sugar tudo o que por aí existe.


Depois vem a iluminação e rapidamente encaixo de novo que a vida não é como nos contos de fadas. Que afinal a minha imaginação apenas é fértil e ingloriamente massacrante.


Entretanto também me vem à memória que nada cai nas nossas mãos, que temos de fazer pelas coisas acontecerem. Nesse momento ressurge uma nova energia, uma nova esperança, uma nova vontade.


Se acontecer ter um jornal por perto ou ser hora das notícias na TV, acordo deste medonho ensejo de vida assaz confortável e completa e regresso ao mesmo.


A pasmacenta rotina do dia-a-dia, vale o que vale.

Posso tirar partido de tudo que se me apresenta e regozijar-me com o que tenho, com o que viajo e conheço de mundo, com o que sei fazer e com o que consigo alcançar.
Lema de vida insípida, porque não desejar mais?

Parece mal? Quiça parece. Mas que se dane.

Assim como assim a idade não abranda, o mundo não pára, o progresso não deixa de evoluir e tempo não há para tudo.


Que se dane.