July 29, 2009

Não faz mal....




As obras e a pintura que a casa precisava, pois o dinheiro não chega para comprar uma nova - não faz mal porque estamos apaixonados.

O atum que comemos durante semanas, em empadão, com salsinhas, com ovo mexido, pois para a Massada de Cherne, o Camarão Tigre de entrada e a Lagosta Suada o dinheiro não chega - não faz mal porque estamos apaixonados.

A tampa da sanita sempre levantada que te esqueces e a pasta dos dentes que não aperto pelo fim - não faz mal porque estamos apaixonados.

A roupa suja que deixaste de pôr no cesto na WC e as piúgas que coleccionas no canto do quarto até ganharem penicilina e que eu já não apanho - não faz mal porque estamos apaixonados.

No dia de São Valentim, aquelas flores que eu adorava e não trazes, "aquela" lingerie que te deixa no ponto e que eu já não compro, só porque achamos agora que é um desperdício de dinheiro e mais vale ficar em casa a ver o Wolverine em versão manhosa, sacada dum qualquer frick da ilegalidade - não faz mal porque estamos apaixonados.

As promessas de amor eterno e o target de pelo menos 6 filhos, porque gostávamos de casa alegre e animada, ficámo-nos pelas gêmeas já que as noites em branco foram a dobrar e... - não faz mal porque estamos apaixonados.

Aquelas gordurinhas que ganhámos porque romanticamente passávamos os fins de tarde de Verão nas hammacks dos lounges de beira-mar a beber sangria e comer Bolas de Berlim - não faz mal porque estamos apaixonados.

Mas...

Veio a dor de cabeça, a sempre reunião no Clube de Vela, a rotina, o imprevisto previsto mas não desejado e ignorado de que o para sempre tinha um fim e descurámos, porque tal como as doenças graves, achámos que só aos outros acontece - afinal estávamos apaixonados.

Não nos empenhámos, deixámos tudo ao sabor do sentimento e fomos traídos pela preguiça em não alimentar o gatinho, em não regar as flores, em não pôr óleo no motor do carro e tretas do género.
O certo é que o gato quinou, as flores secaram e o carro gripou.

Agora choramos, porque não conseguimos vender a casa que comprámos a meias, porque não atinamos na regulação do poder paternal das gêmeas, porque eu sempre quis o LED da sala de estar e tu agora embirras (tal como embirraste quando o comprámos) e porque as hormonas andam ao rubro pela falta de sexo, o tal maravilhoso e bom que fazíamos, do encaixe perfeito e fabuloso dos nossos corpos - que afinal era tudo mentira, já que descobri tu dizias o mesmo à catequista das miúdas, à enfermeira da clínica onde foste operado à pedra no rim e à tua personal trainer que teimavas em arranjar por causa das p**as das Bolas de Berlim!

Nada faz mal, quando estamos apaixonados... isto, se nunca acordármos.

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