July 28, 2009
O livro de Gastão
(Pablo Picasso )
Foi numa tarde de imensa solidão, para os lados do Outono e numa casa de esquina com a igreja matriz da aldeia alpina. Céu cinzento, nuvens gordas de gotículas gélidas e frenéticas de liberdade. Raios cobriam o horizonte e de lá longe chegava o trovão da tempestade. Imponente.
As árvores rugiam à vontade do vento, a fauna e flora rezava a Santa Bárbara para que tudo parasse rápido; quanto a mim, tanto me fazia.
Era a natureza no seu melhor e sempre me preenchia o vazio da solidão, do silêncio, aquele que ecoa dentro da cabeça e nos deixa ainda mais sós.
Com manifesta minúcia li o teu livro, o tal que te propuseste escrever, faz agora uns seis anos.
Seis longos anos, em que te empenhaste, esforçaste, estudaste, investigaste...
Sei bem o que padeceste e tanto ou mais valor te dou por isso mesmo.
Chegaste ao epílogo e libertaste-te dum capricho, dum desígnio da idade, dum cliché da nossa geração que para sermos Homens teriamos que ter um filho, escrever um livro e plantar uma árvore.
Fizeste isso tudo, mas ainda hoje acho que cannabis plantado no quintal não serve como árvore. Não importa agora também.
Terminei o livro num ápice.
Cinquenta e sete páginas de pobre enredo, usado, já muito visto e falado.
Personagens que carecem de realismo, de essência, de interesse. Mini-capítulos em catadupa, nem sequer é inédito. Mau.
Não tive ainda a coragem - a mesma que veste os heróis; nem a astúcia - a mesma que domina nas raposas.
E muito menos a misericórdia - a mesma que dizem reina nos Céus.
Falta-me tudo isso e mais o engenho para te dizer, assim por muitas ou mesmo poucas palavras que o teu livro, Gastão, não presta.
É a minha apreciação... e agora dizer-to?
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