November 03, 2009

Melhor... só?



Quando se fala em viver sózinho, viajar sózinho, logo vem o rótulo de solidão, de pessoa encalhada, triste, um deprimido pela certa e com maior certeza: um tipo de "mau feitio".

Enganam-se os que julgam estarem bem, suportando casamentos sem Amor, pendurados no estigma das finanças ou status familiar e social.

Ou suportando contra-vontade (e outros até a bem da vontade) amizades coloridas, porque "todos temos necessidades e isto do compromisso é uma chatice que nos tira a liberdade".

Bom, liberdade tem-se dentro e fora do casamento. Não é por usar uma anilha ou por não a usar.

Liberdade está na nossa cabeça e na do parceiro e vice-versa... tb.

O que as pessoas não falam nunca - e isso é que é o problema, é no r e s p e i t o, h o n e s t i d a d e, ou melhor: a falta deles. Principalmente para elas próprias.

Quem se sente bem sózinho não magoa outros com enredos e falsidades só para poder ter momentos prazenteiros para quando lhe dá na gana, quando se lembra que é adulto, maduro e tal e até lhe faz falta uma companhia ou quando na mão dos prazeres, arranjou uma tendinite.

Usar cronómetros na gestão dos afectos é o mesmo que tomar as refeições num laboratório de análises de doenças infecto-contagiosas. Não é bom. Vai acabar mal.

Pior do que até sequer pensar em geri-los (aos afectos).

Nas relações de longa duração todos nós temos oportunidade de fool around, mas - e isto é o que nos separa dos animais - todos temos a capacidade de julgar, de usar o raciocínio e distinguir o trigo do joio.

Sózinho, é pois a melhor forma de se estar e ser... egoistícamente falando se formos sinceros para nós próprios. Será?
Não, só seremos egoistas se usarmos do "sózinho" e não largármos o (man)ter "outrem" (ou mais por vezes). Acaba mal.

Já é por todos sabido, o meu desconforto de opinião em relação à pessoa da Margarida Rebelo Pinto, no entanto e volto a frasear, cito-a com muito prazer e ensejo que sirva para alguma coisa, para alguns pontos de vista que andam para aí tortos como cepas da melhor uva.


AS SEGUNDAS escolhas podem trazer-nos a ilusão da segurança, mas se o coração, a cabeça e o estômago não estão lá por inteiro, mais tarde ou mais cedo, a miragem ganhará contornos daquilo que é: a projecção torpe de uma quimera sonhada. E quem escolhe por defeito – por medo da solidão, por pensar que não merece melhor, porque não quer sentir-se a tal carta do baralho extinto –, mais cedo ou mais tarde, será obrigado a enfrentar os seus próprios fantasmas.

(...)
E, para quem não sabe estar só, o melhor é ir aprendendo. Mais vale só do que acompanhado por um alguém qualquer que tanto podia estar ao nosso lado como ao lado de outro alguém. Refugo, só nas lojas de velharias.

(...) andamos todos à procura da casa da nossa vida, da viagem da nossa vida, do livro da nossa vida e da mulher (ou homem) da nossa vida. E quando julgamos ter encontrado e acabou ou se perdeu, continuamos presos à ideia, à pessoa. Para quê?
O melhor de uma viagem é viajar, tal como o melhor de amar é descobrir e aceitar, sem ter de prender o outro com promessas, papeladas, alianças ou anilhas, até porque quem ficar connosco por outras razões que não sejam as do coração, nem merece o nosso amor, nem nós merecemos o amor que possa ter por nós.

Margarida Rebelo Pinto

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